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Workshop Rádio Digital discute o cenário brasileiro e o futuro da radiodifusão sonora

26/01/2025 | Rádio OTA, Tecnologia

No dia 22 de janeiro, a ZYDIGITAL promoveu o Workshop Rádio Digital, um evento que reuniu proponentes de tecnologia e lideranças do setor para discutir o presente e o futuro do rádio no Brasil. O workshop abordou a evolução das tecnologias digitais, o cenário brasileiro e as novas possibilidades para a operação digital das emissoras de rádio.

O workshop surgiu da crescente demanda por informações sobre o rádio digital, um tema que, após um período de experimentação no início dos anos 2000, havia perdido espaço nas discussões do setor. Em 2003, a RBS realizou uma demonstração de rádio digital em Porto Alegre e, em 2005, RBS, Globo e Bandeirantes iniciaram testes com o padrão HD Radio. Seguiram-se experiências com o padrão DRM e testes de campo em diversas situações e configurações. Porém, com o tempo, o assunto acabou ficando adormecido.

Agora, depois de 20 anos das primeiras experiências e com o setor pressionado pela competição das mídias digitais, o assunto voltou a despertar interesse nos profissionais de rádio brasileiros.

O Workshop Rádio Digital representou um marco importante nesta retomada das discussões sobre o futuro do rádio no Brasil, abrindo novas perspectivas para emissoras e ouvintes.

Tecnologias em destaque

O evento explorou as três principais tecnologias de rádio digital: DAB, DRM e HD Radio – aqui, é importante notar que a sequência das apresentações não indicou preferências e seguiu, simplesmente, a ordem alfabética.

Cada uma das tecnologias tem suas próprias características de transmissão e formas de alocar os sinais digitais no espectro de radiofrequência:

  • DAB (Digital Audio Broadcasting): Esta tecnologia agrupa vários “serviços” (canais de programação de rádio) e os transmite em uma única frequência, a partir de um único transmissor. Um sistema típico de transmissão pode transportar de 10 a 12 serviços. A tecnologia exige uma nova faixa de frequências para operar, podendo usar a Banda III de VHF (canais 7 a 13 de TV).
  • DRM (Digital Radio Mondiale): O DRM opera de forma diferente. No caso de um processo de digitalização de emissoras analógicas existentes, é necessário adicionar um segundo transmissor para os sinais digitais. Por exemplo, para o FM, a transmissão digital poderia ser alocada em qualquer espaço vago na faixa de 76-108 MHz (transmissão “in-band”), ou mesmo dentro do próprio canal da emissora como uma banda digital lateral (transmissão “in-band-on-channel” ou IBOC).
  • HD Radio: Como o DRM, necessita de um transmissor separado para o sinal digital. É uma solução IBOC que transmite duas bandas laterais digitais no mesmo canal da transmissão analógica.

Todas essas tecnologias proporcionam uma “experiência digital” para os ouvintes, permitindo a transmissão de metadados, imagens, informações da programação ou dos anunciantes, tudo em tempo real. Além disso, todas elas oferecem, de uma forma ou de outra, recursos de multiprogramação, possibilitando a divisão do canal de transmissão para incluir programas secundários adicionais.

Cada um dos três proponentes de tecnologias preparou duas apresentações. A primeira, exibida na live do workshop, contém uma visão geral executiva da tecnologia e aspectos de mercado. A segunda, disponibilizada para consumo on demand, apresenta em mais detalhes os diversos aspectos da tecnologia, das características técnicas à experiência do ouvinte. (Veja todas as apresentações aqui.)

O contexto histórico e o que mudou

O workshop também analisou o contexto histórico brasileiro, abordando o que não deu certo no passado e o que mudou.

  • DAB: A falta de faixas de frequência disponíveis inviabilizou o DAB no passado. Atualmente, com a digitalização da TV e o esvaziamento da Banda III de VHF, essa faixa poderia ser utilizada para o DAB.
  • DRM e HD Radio: Inicialmente, o foco das discussões estava na cobertura do AM e o rádio digital IBOC era visto com a “bala de prata” para resolver este problema. Porém, na época, a performance do digital no AM não correspondeu às expectativas dos radiodifusores o que resultou na perda do interesse. Agora, o AM achou seu caminho migrando para o FM e, nesta faixa, o cenário é outro. Técnicas mais recentes melhoraram a cobertura digital no FM e a digitalização volta a ser uma alternativa a ser avaliada.

O cenário brasileiro e os caminhos para a digitalização

Após as apresentações das tecnologias, a participação do engenheiro Eduardo Cappia, diretor da EMC Solução em Telecomunicações, conselheiro da SET e Coordenador do Comitê Técnico da AESP, trouxe uma perspectiva detalhada e histórica sobre a implementação do rádio digital no Brasil, enfatizando a necessidade de atualização do cenário brasileiro. Ele relembra que as discussões sobre o rádio digital, incluindo o DAB (Eureca 147), remontam a 1995, e que o Brasil realizou testes e debates entre 2001 e 2011 envolvendo governo, associações e a academia.

Cappia destacou que, em 2010, houve o lançamento do Sistema Brasileiro de Rádio Digital, através da portaria MC-290, mas que não houve avanços significativos depois disto. Ele ressaltou a importância de revisitar o tema, levando em consideração as experiências passadas com o HD Radio e o DRM.

Em sua análise, Cappia destacou:

  • Histórico e testes: O Brasil já possui um histórico de testes com diversas tecnologias de rádio digital, incluindo HD Radio em 2006 e DRM em 2008. Esses testes ocorreram em diversas cidades, como Cordeirópolis, Ribeirão Preto, São Paulo, Belo Horizonte e Brasília.
  • Compatibilidade e convivência de sistemas: É possível a coexistência de sistemas digitais distintos. Testes em 2009 demonstraram esta possibilidade com a operação simultânea duas emissoras em São Paulo, uma com o DRM e outra com o HD Radio. Cappia ressaltou também a necessidade de preservar o cenário analógico atual do FM, que opera entre 76 e 108 MHz, respeitando as máscaras de emissão dos sinais analógicos.
  • Desafios e oportunidades: Um dos desafios é a implementação do sistema de ondas curtas em full digital, especialmente para atender regiões como a Amazônia – a tecnologia DRM poderia ser utilizada com um “translator” FM analógico de baixa potência. Outra possibilidade é utilizar a faixa de 76 a 78 MHz para o sistema DAB, mas reconhece que essa é uma discussão complexa devido à ocupação da faixa de VHF.
  • Receptor multissistema: Estes receptores têm um papel importante na digitalização. Podem receber sinais analógicos e digitais de diferentes sistemas, com multiprogramação e metadados. Cappia menciona que a indústria de receptores já possui soluções para isso.
  • Cenário atual: Cappia ressalta a importância de respeitar a máscara de emissão e a canalização atual e que o HD Radio e o DRM são viáveis dentro dessas condições. Ele também aponta que, dentre FM, RadCom e RTR, existem 7625 emissoras com outorgas ativas no Brasil, com grande penetração na audiência, o que reforça a importância de uma transição cuidadosa para o digital.
  • Rádio Nacional da Amazônia: Ele destaca a importância da Rádio Nacional da Amazônia, mencionando o sistema no Parque do Rodeador, que está sendo preparado para operar em onda curta com o padrão DRM. Ele sugere que a emissora pode ser um exemplo de uso da tecnologia DRM para atender a população da Amazônia com dados e informações importantes.

O futuro do rádio no Brasil

Fechando o workshop, Paulito Machado de Carvalho, Diretor de Rede e Expansão do Grupo Jovem Pan, Conselheiro da ABERT e Conselheiro da AESP, apresentou a sua visão sobre o assunto com uma perspectiva franca e preocupada sobre o futuro do rádio no Brasil, enfatizando a necessidade urgente de inovação e adaptação às novas tecnologias.

Com uma forte chamada à ação, Carvalho destacou a necessidade de união e urgência na busca por um futuro para o rádio no Brasil. Ele expressou uma preocupação genuína com a falta de envolvimento do setor e a importância de encontrar uma solução que garanta a sobrevivência do rádio na era digital.

Em sua participação, Carvalho fez as seguintes análises e comentários:

  • Necessidade de mudança e inovação: O rádio precisa definir novos caminhos e buscar novas oportunidades, tanto mercadológicas quanto promocionais. Carvalho acredita que o rádio precisa de um “upgrade” para provocar uma reação no público, que hoje está mais familiarizado com as tecnologias digitais em outros meios, como a TV.
  • Falta de impacto da faixa estendida: Carvalho critica a falta de repercussão da faixa estendida, mencionando que ela não trouxe nada de novo para o ouvinte de rádio.
  • Concorrência com o streaming: Carvalho reconhece a concorrência com os serviços de streaming como Spotify e Deezer e defende que o rádio precisa se envolver nesse processo para sobreviver e se autossustentar no futuro.
  • Preocupação com o futuro do rádio: Carvalho expressa uma grande preocupação com o futuro do rádio, afirmando que faz rádio muitos anos e não vê um envolvimento maior por parte dos empresários do setor. Ele acredita que a solução para o futuro do rádio deve partir dos próprios radiodifusores e não dos órgãos governamentais, que seriam apenas apoiadores e autorizadores. Ele defende ainda que é preciso trabalhar para encontrar a melhor alternativa, sem ficar esperando que a solução venha de fora.
  • Urgência na tomada de decisão: Carvalho alerta para a urgência na tomada de decisão sobre o futuro do rádio, criticando a criação de comissões que apenas prolongam e postergam as decisões. Ele clama por ação imediata para definir o futuro do rádio.
  • A Importância da TV 3.0: Ele compara o avanço da TV 3.0 com a estagnação do rádio, destacando que pouco ou nada se fala sobre o futuro do rádio enquanto a TV 3.0 tem se promovido bem. Ele apela para que o setor de rádio se envolva diretamente nesse processo.
  • Abertura para todas as soluções: Carvalho enfatiza que o mais importante é encontrar um caminho, seja ele qual for (DRM, DAB, HD Radio ou qualquer outra alternativa) e que a questão não é qual tecnologia escolher, mas sim como renovar o rádio.
  • Apelo à união dos radiodifusores: Carvalho faz um apelo aos radiodifusores, dos pequenos aos grandes, para que se unam em um esforço para definir o futuro do rádio.

Material de apoio sobre rádio digital

Todo o material do workshop – arquivos das apresentações, vídeos, bibliografia de apoio e links úteis – está disponível na página do evento.

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